segunda-feira, junho 10, 2013

O fim da linha

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Nenhum Presidente da República foi eleito pela unanimidade dos portugueses ou mereceu a simpatia de todos os cidadãos, mas todos eles foram reconhecidos como seu representante e como o órgão de soberania que melhor representa a unidade da Nação. Apupar um Presidente da República era impensável e se ta ocorresse num dia 10 de Junho seria escandaloso. Com Cavaco Silva já não são os seus discursos que despertam a curiosidade, o que os jornalistas querem saber nas cerimónias do Dia de Portugal e das Comunidades é se é apupado e se recebe mais ou menos apupos do que o primeiro-ministro.
  
Não vale a pena iludir a realidade considerando os apupos como meras manifestações de descontentamento por causa da austeridade, os portugueses nunca foram ricos e apear do discurso da fartura foi raro o ano em que não ouviram falar de reformas, de cortes ou de medidas de austeridade, mais austeridade ou mais austeridade a maioria dos portugueses sempre foram pobre, muitos deles sempre passaram fome. Ser pobre ou passar dificuldades não é necessariamente a antecâmara da corrupção, do roubo ou da falta de sentido de nação.

Os apupos não resultam do facto de os cidadãos já não respeitarem o Dia de Portugal e das Comunidades, não são os cidadãos comuns que perderam essa noção. Quem perdeu a Noção foi um governo que divide os portugueses, que protege e favorece uns e acusa os outros, que governa recorrendo a truques manhosos, a mentiras e manipulações da opinião. O conceito de Nação é estilhaçado quando a crise em vez de ser superada é agravada por uma política que divide, que destrói, que desmotiva um país. E Cavaco fez deste o seu governo, fez desta a sua política, fez destes ministros os seus ministros, até fez das previsões de Gaspar as suas próprias previsões.
  
Cavaco não se limitou a apoiar este como sendo o seu governo, ignorou ou tentou ignorar a Constituição, esqueceu a sua obrigação de a cumprir e fazer cumprir e como se isto não bastasse, escolheu o dia da democracia para desferir um violento ataque ao maior partida da oposição.
Desta vez Cavaco não poderia escapar-se ao risco dos apupos como fez no final da Taça de Portugal, não poderia comparecer às cerimónias quase sob disfarce ou ir para a tribuna já com os militares a desfilar ou com aos primeiros acordes do hino. Restava-lhe a esperança de os cidadãos respeitarem a data, esperança vã por parte de quem se esquece de respeitar o estatuto do maior partido da oposição, esqueceu-se de exigir ao governo que respeitasse a Constituição ou que respeitasse a necessidade de consensos no momento da renegociação do memorando.

Cavaco esqueceu tanta coisa que muitos portugueses já se esquecem de que ele foi eleito para Presidente da República. É o fim da linha de uma presidência incompetente que colabora com o governo num processo de destruição colectiva em que muitos já esquecem ou ignoram o sentido de Nação.

Aditamento: Alguém enganou Cavaco Silva e lhe disse que estava a discursar na Feira Nacional da Agricultura, em Santarém, em vez de falar nas cerimónias oficiais do Dia de Portugal e das Comunidades, em Elvas?

Para se escapar à realidade, sem ter de descolar do governo ou da oposição Cavaco fez um discurso em que só faltaram as referências às vacas da Graciosa. Enfim, usando uma linguagem menos própria, perante a crise grave que o país atravessa alguém optou por se virar para a agricultura e se entreteve a "coçar os tomates" para no fim fazer o discurso de Passos Coelho, disfarçou o presente desviando a atenção para o pós troika e falou em defesa do povo como gente honrada que paga as suas dívidas.

Um discurso pobre, ruralista e pouco corajoso.