quinta-feira, janeiro 24, 2013

Brincar aos papás e às mamãs


A ida de Gaspar ao mercado está para o financiamento da dívida portuguesa como a brincadeira de crianças aos papás e às mamãs está para a taxa da natalidade., não passa de uma brincadeira de faz de conta. Só que Gaspar quer fazer passar a ideia de que poderá ir aos mercados se os portugueses aceitarem todas as suas políticas, isto é, tornar definitivo o empobrecimento de todos os portugueses que dependem de um salário e permitir a eliminação do Estado Social reduzindo-o às funções policiais, à caridade e a um sistema de saúde que vise apenas impedir a proliferação de epidemias que possam surgir nos meios mais pobres, um pouco como a antiga rede de dispensários.
  
Esta intenção de Gaspar tornou-se evidente quando a primeira entidade a vir a público elogiando a operação e chamando a atenção para a necessidade de prosseguir na política do Gaspar foi precisamente o tal Simon O’Connor que nunca se percebe muito bem se está falando em nome do comissário ou fazendo um frete ao Gaspar.
  
A verdade é que da mesmas forma que as crianças não fazem meninos quando brincam também o Gaspar não resolveu qualquer problema e os grandes beneficiários da operação foi a banca, as suas acções subiram e ainda puderam comprar dívida com juro de quase 5% tendo-se financiado com juros de 1%. Não admira que tenham sido os primeiros a vir a público tecer grandes elogios.
  
Em dois dias o Gaspar fez uma brincadeira nos mercados a coberto da iniciativa da Espanha e com a ajuda das muletas do BCE e os portugueses em vez de estarem a discutir o segundo resgate estão sendo embalados com uma manobra que mais do que financeira foi pura propaganda. Se Portugal já consegue ir aos mercados financiar-se por taxas próximas das praticadas pela troika e a tendência é para melhorar, então porque razão no dia anterior o mesmo Gaspar pediu ao Eurogrupo o prolongamento da dívida, isso tempos depois de ter obtido um adiamento do prazo para cumprir o défice.
  
Vítor Gaspar passa a mensagem de que quer libertar o país da troika indo brincar aos papás e às mamãs nos mercados financeiros, mas por trás e sem qualquer debate ou sem que ninguém seja ouvido vai a Bruxelas prolongar todos os prazos, forçando o país a assumir compromissos muito para além do fim da legislatura.
  
Ao forçar o país a compromissos para um prazo que vai muito para além do mandato deste governo e ao promover uma reforma do Estado com base num relatório que mandou o FMI assinar e faz questão de ignorar quaisquer valores constitucionais, Vítor Gaspar pretende governar sem regras. Gaspar não foi ao mercado buscar dinheiro, foi ao mercado buscar a legitimidade financeira que na sua opinião se sobrepõe e deve fazer soçobrar a legitimidade democrática.

Com as calças do BCE o Gaspar até pareceu um grande ministro das Finanças, mas a verdade é que o mercado de que Portugal precisa não é o falso mercado financeiro, é o mercado mundial para as nossas exportações, o mercado da construção para salvar a nossa construção civil e o mercado interno para salvar milhares de empresas à beira da falência. E quanto a esse mercado parece que o Gaspar sofre de alergia, talvez porque o seu amigo O’Connor não se mete nesses assunto. Resta-nos o Álvaro, ao menos esse fala de mercados, de concertação social e de crescimento económico.

PS: Parece que o José Seguro perdeu duas oportunidades, uma de ficar calado e a outra de dizer alguma coisa de jeito. Optou por dizer banalidades e com declarações como esta ou como as opiniões pessoais de pares como um tal Beleza o PS arrisca-se a nunca mais passar dos 34% de intenções de votos.